Leve e sutil, “O Livro das Semelhanças” da autora mineira Ana Martins Marques é um daqueles títulos que desconstroem significados, dando lugar a outros, ao mesmo tempo que apresenta resignificações para momentos rotineiros e cotidianos. Na obra não está descrita a profundidade do universo ou ainda a complexidade da vida. Por outro lado, vemos o comum, o dia a dia, mas nem por isso, de forma rasa.
Como sinopse oficial temos:
O Livro das Semelhanças, obra de uma das mais aclamadas poetas brasileiras contemporâneas, é um acontecimento raro em nossa cena literária A mineira Ana Martins Marques se mostra, em seu terceiro livro, como um dos grandes valores da poesia brasileira. Seus versos comunicam e são certeiros, a nota lírica vem sempre acompanhada de uma visão irônica — e delicada — da realidade. Dividido em quatro seções, O livro das semelhanças desperta o leitor para o prazer iluminador e sensível de uma voz forte e original. Do amor à percepção de que há um espaço para o lugar-comum, do entendimento da precariedade do nosso tempo à graça proporcionada pela memória: eis uma poeta que nos fala diretamente. Ou, como diz em um de seus versos: “Ainda que não te fossem dedicadas / todas as palavras nos livros / pareciam escritas para você”.
De forma bastante plural, a autora consegue de forma simples apresentar o realismo tão presente em nós, como apresentado em ‘Último Poema’:
Agora deixa o livro
Volta os olhos
Para a janela
A cidade
A rua
O cão
O corpo mais próximo
Tuas próprias mãos:
Aí também
Se lê.
A autora mostra como símbolos e novos significados são gerados através do concreto, muito bem retratados em ‘Coleções’:
Colecionamos objetos
Mas não o espaço
Entre os objetosFotos
Mas não o tempo
Entre as fotosSelos
Mas não
ViagensLepidópteros
Mas não
Seu vooGarrafas
Mas não
A memória da sedeDiscos
Mas nunca
O pequeno intervalo de silêncio
Entre duas canções.
Lançado em 2015 pela Companhia das Letras, “O livro das Semelhanças”, está dividido em quatro partes (‘Livro’, ‘Cartografia’, ‘Visitas ao lugar-comum’ e ‘O livro das semelhanças’). Com uma cerca carga de melancolia e inúmeros recortes de experiências, a obra carrega em si o uso recorrente da metalinguagem.
Ana Martins Marques é redatora, revisora e poetisa, nascida em Belo Horizonte/MG. Seu primeiro livro, “A vida submarina” (2009), reúne poemas vencedores do Prêmio cidade de Belo Horizonte nos anos de 2007 e 2008. A autora também ganhou o Prêmio Alphonsus de Guimaraens, pelo seu segundo livro, Da arte das armadilhas (2011).