Nomadland

O premiado “Nomadland”, longa estadunidense de 2020, à primeira vista é um filme triste, desolador e bastante realista, por assim dizer. Ao apresentar o conceito de nomadismo, o longa consegue ser triste por apresentar uma atmosfera melancólica e isolada do mundo (como conhecemos), fazendo uso de uma linguagem peculiar para contar a história de uma trabalhadora nômade que deixa sua cidade natal depois que seu marido morre e a única indústria fecha, para se tornar uma “sem casa” e viajar pelos EUA. O longa também é desolador ao apresentar uma personagem que se encontra em uma condição que sim, deprime (basta ver em seus olhos). Por fim, é realista porque a situação descrita pela história pode e é vivida por muitas pessoas ao redor do mundo. Mas por outro lado, tal narrativa nos leva a questionar: o nomadismo, como apresentado no longa, é realmente uma consequência e reflexo da crise econômica ou apenas a escolha por um estilo de vida averso ao sedentarismo e por firmar raízes?

Vejo que, após analisar boa parte da construção da personagem principal, bem como o conceito de nomadismo de um modo geral, uma coisa é certa e até bem fácil de ser dita: a vida na estrada, sem um destino certo, sem um plano sólido de sobrevivência, sem o apego a uma família por perto, em quem confiar, bem como a ausência de duradouros envolvendo amigos, não é para qualquer um.

Baseado no livro “Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century” de Jessica Bruder, lançado em 2017, o longa impressiona pela qualidade da narrativa, locações e também pela interpretação da magnífica Frances McDormand que rouba a cena por quase todo o filme. Vale ressaltar ainda que vários nômades da vida real aparecem como versões fictícias de si mesmos, incluindo Linda May, Swankie e Bob Wells. O trailer pode ser visto aqui.

O roteiro nos coloca em contato com a trajetória de Fern (Frances McDormand), uma mulher de meia idade que, após o colapso econômico de 2008 nos EUA, e o fechamento de uma colônia industrial na zona rural de Nevada (EUA), acaba perdendo o seu emprego, seu marido e sua casa. As condições fazem com que Fern opte por uma vida totalmente nômade, tendo pela sua frente apenas a vazia estrada do futuro, na vasta paisagem do oeste americano. Ela reúne suas coisas em uma van e parte rumo a uma viagem exploratória, sobrevivendo através de trabalhos temporários que surgem ao longo do caminho. Nesta jornada de vida, Fern conhecerá muitas pessoas e experiências diversas. Fern perceberá que a vida de um nômade pode ser dura, mas que também é repleta de descobertas e solidariedade entre outros nômades que, vítimas da recessão que assola a economia, já não conseguem mais se readaptar à vida sedentária e fixa em um único lugar.

Escrito, editado, produzido e dirigido por Chloé Zhao, Nomadland tem em seu elenco Frances McDormand, David Strathairn, Linda May, Charlene Swankie e Bob Wells.

No Oscar 2021, Nomadland ganhou as categorias de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz (para Frances McDormand) de um total de seis indicações: Melhor Filme, Melhor Atriz para Frances McDormand, Melhor Direção para Chloé Zhao, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Fotografia, além de ter ganhado os Globos de Ouro de Melhor Filme de Drama e Melhor Direção.