Mario Sergio Cortella é o tipo de autor que dispensa apresentações. Seu livro “A Diversidade – Aprendendo a Ser Humano”, lançado em 2020, vai em uma direção que une o relevante, o necessário e o primordial nas relações atuais, trazendo um debate bem sincero e humano sobre a diversidade.
Repleto de exemplos, alegorias e explicações (principalmente referente a termos e palavras – marca registrada do autor), o livro consegue ao mesmo tempo ser leve quanto o tom da fala/escrita e profundo no tocante à temática e a urgência de tratar de tais assuntos. Isso porque diariamente identificamos nas redes (e relações) sociais, nos jornais, nas conversas de corredor e em tantos locais, a fragilidade humana colocada à prova quando um cidadão desumaniza o outro, diminuindo-o, reduzindo, promovendo e se aplicando o biocídio (termo citado inúmeras vezes na obra).
Cortella, com um jeito quase paterno, conduz o leitor pelas inúmeras condições que o ser humano está passível de viver em sociedade, exemplificando situações cotidianas e suas repercussões e desdobramentos. Cita Freire, Marx, Leonardo Boff, Freud, Enrique Dussel, entre outros. Passando pela psicologia social, filosofia, sociologia, antropologia e tantas outras ciências humanas e sociais, Cortella brilhantemente esclarece o que aparentemente sequer precisaria de explicação.
A sinopse oficial já dá uma boa pincelada no que o leitor encontrará:
A beleza na diversidade, a complementaridade na diferença, a riqueza na pluralidade. Intolerância, polarização, hostilidade, desprezo. Esses sintomas presentes em nosso cotidiano se originam, em grande medida, na falta de alteridade. Na atitude de olhar o outro não como outro, mas como estranho, como intruso e, muitas vezes, como inferior. É nessa ambiência que se instala o preconceito, ao qual todos precisamos estar atentos. Porque o preconceito reduz a nossa capacidade de conviver, de refletir, de fazer melhor, de inovar e de partilhar. Este livro, escrito originalmente com Janete Leão Ferraz e publicado em 2012 com o nome Escola e Preconceito: docência, discência e decência, agora foi modificado e renomeado, ganhando mais atualidade para o que precisamos fazer com urgência: recusar o biocídio e seguir na busca de uma vida coletiva que reconheça concretamente a beleza na diversidade, a complementaridade na diferença, a riqueza na pluralidade! Afinal, há muitos modos de ser humano e o fato de sermos um desses modos não significa que sejamos o único modo de ser!
Segundo o autor
O propósito deste livro é apresentar ideias e concepções que contribuam para semear um futuro decente, de vida plena para todos e todas, sem vexames nem hipocrisias, em uma sociedade que acolha as diferenças sem promover desigualdades. Um ponto interessante para refletirmos sobre ética é pensá-la como a capacidade de proteger a dignidade da vida coletiva. Afinal de contas, nós — homens e mulheres — vivemos juntos. E, com isso, afirmamos a nossa condição de humanos com outros humanos. Aliás, para seres humanos não existe vivência, apenas convivência. A nossa humanidade é compartilhada. Ser humano é ser junto!
Cortella acrescenta ainda que
… o Brasil é um dos países com a maior diversidade cultural, natural, geográfica e biológica do mundo. Reúne pessoas de todos os tipos, origens, gêneros, sotaques e religiões. Há, no entanto, quem veja essa pluralidade não como fonte de riqueza, mas como razão para criar barreiras. Quem, em vez de enxergar o outro como diferente, o vê como inferior, seja pela etnia, região de onde vem, condição social ou pela orientação sexual. Ainda que se exalte a mistura que forma o diversificado mosaico humano existente no Brasil, no dia a dia vemos manifestações que rechaçam as diferenças. Em vez de encararmos a pluralidade como um patrimônio, em algumas ocasiões, nos mostramos uma sociedade adversa à diversidade. Observamos o preconceito presente em situações do nosso cotidiano. A atitude preconceituosa é deletéria para quem dela for alvo e também para quem a prática. A vítima, obviamente, padece de forma mais aguda e sofrida. O vitimador, por sua vez, tendo agido de forma consciente ou não, é também vitimado pela própria tolice mental, indigência espiritual ou fragilidade moral.
O autor esclarece o que o motivou a escrever a obra:
Cortella, aceitei o convite para discorrer sobre o preconceito, pensei naquilo que um professor precisaria evitar para não tornar a obra banal, rasa ou, pior, uma lista de regras que poderia sugerir que o tema é fácil de lidar e rápido de solucionar. Para tanto, decidi caminhar no terreno de conceitos, reflexões, casos e práticas sobre o preconceito em geral, sem abrir mão de sugestões, mas tampouco supor que somente segui-las seria suficiente para resolver a questão. Se quisermos edificar consciências e práticas efetivas de recusa à violência que o preconceito representa, é necessário empreender nosso melhor esforço. Isso significa usar todos os instrumentos disponíveis (pedagógicos, legais, morais) para prevenir e desestimular qualquer manifestação cuja intenção e resultado seja segregar, excluir, vitimar ou discriminar qualquer ser humano, em qualquer circunstância, em qualquer lugar, em qualquer tempo. A existência de uma legislação, por exemplo, que puna manifestações de preconceito, por si só, não basta para impedir situações dessa natureza. Contudo, é fundamental que as leis estejam em vigor. A uma legislação se obedece por temor ou convicção, mas coibir o preconceito é um princípio ético que está além do âmbito da legalidade. É uma questão de decência no convívio. Daí a necessidade de um ensinamento significativo e marcante. “Ensinar” significa deixar uma marca em alguém capaz de levá-la adiante. Não por acaso, o subtítulo deste livro é “Aprendendo a Ser Humano”.
Mario Sergio Cortella Nasceu em 5 de março de 1954, em Londrina, no interior do Paraná. Quando tinha 13 anos, mudou-se com os pais, irmão e irmã para São Paulo, onde está até hoje, faz mais meio século. Nesta cidade casou-se, tem dois filhos e uma filha, e estes se desdobraram (por enquanto) em dois netos e duas netas. Formou-se em Filosofia, fez Mestrado e Doutorado em Educação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na qual começou a dar aulas em 1977 com docência e pesquisa na Pós-Graduação em Educação (Currículo) e no Departamento de Teologia e Ciências da Religião; nela se aposentou como professor-titular 35 anos depois. Professor convidado da Fundação Dom Cabral (desde 1997) e do GVpec da FGV-SP (entre 1997 e 2009), foi Secretário Municipal de Educação de São Paulo (1991-1992). É comentarista e colunista em programas de rádio e televisão, além de ter presença constante nas mídias digitais, e também autor, até 2020, de 45 livros publicados no Brasil e exterior.