Publicado em 1954, o livro “Fazendeiro do Ar” é um das obras decisivas de Carlos Drummond de Andrade. Traz um conjunto de versos que nos faz permanecer na contínua tarefa de observar a vida e de se perguntar pelo sentido das coisas.
O livro é um dos mais importantes da obra poética de Drummond, que investe na metafísica e na observação da brevidade da vida, porém sem se esquecer dos afetos e do mundo sensível e real em que nos encontramos. Em ‘Cemitérios’, Drummond faz uma ode à morte: “O corpo enterrem-me em São Bento na capela-mor com um letreiro que diga Aqui jaz um pecador. Se eu morrer na Espanha ou no mar mesmo assim lá estará minha campa e meu letreiro Não dobrem sinos por mim e se façam apenas os sinais por um pobre quando morre.” E quanto a dor de amar, esta continua a ser celebrada, como em ‘O Quarto em Desordem’: “Na curva perigosa dos cinquenta derrapei neste amor. Que dor! Que pétala sensível e secreta me atormenta e me provoca à síntese da flor”. É, sem sombra de dúvida, uma obra de extremos”.
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira/MG, em 31 de outubro de 1902 e começou sua carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas. Morreu no Rio de Janeiro/RJ, no dia 17 de agosto de 1987, logo após a morte de sua única filha, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.
A seguir, compartilho o poema “A Distribuição do Tempo”:
A Distribuição do Tempo
Um minuto, um minuto de esperança,
e depois tudo acaba. E toda crença
em ossos já se esvai. Só resta a mansa
decisão entre morte e indiferença.
Um minuto, não mais, que o tempo cansa,
e sofisma de amor não há que vença
este espinho, esta agulha, fina lança
a nos escavacar na praia imensa.
Mais um minuto só, e chega tarde.
Mais um pouco de ti, que não te dobras,
e que eu me empurre a mim, que sou covarde.
Um minuto, e acabou. Relógio solto,
indistinta visão em céu revolto,
um minuto me baste, e a minhas obras.