Podemos dizer que encontros para conversar sobre temas diversos são comuns. No Brasil, chamamos de roda de conversa. Não seria diferente quando se fala filosofia. A diferença aqui é que, o livro “Sócrates Café: O delicioso sabor da filosofia!”, de Christopher Phillips, lançado em 2015, retrata uma experiência nos EUA. E a experiência, pelo que se pode perceber com a leitura, foi bastante salutar.
A sinopse oficial destaca:
Christopher Phillips é um homem com uma missão – reviver o amor do questionamento que Sócrates inspirou há muito tempo, na antiga Atenas. Phillips não só apresenta os fundamentos do pensamento filosófico neste ‘charmoso’ guia, ele também lembra o que o levou a iniciar o seu programa e recria algumas das sessões mais revigorantes, que vêm a revelar, por vezes, surpreendentes reflexões, muitas vezes profundas sobre o significado do amor, amizade, trabalho, vida, e etc. Em síntese – uma leitura divertida sobre a faísca que acende quando as pessoas começam a fazer perguntas significativas.
Com uma linguagem bastante acessível, sem mergulhar nas profundezas da filosofia, o mais consegue através de um testemunho de como ele implementou seus encontros filosóficos (por aqui você já deve ter ouvido falar do termo “café filosófico”) em lugares diferentes dos EUA.
O próprio autor Christopher Phillips descreve em poucas palavras sua obra:
Este livro é sobre minhas experiências à procura de Sócrates com gente de todas as idades e estilos de vida — e comigo mesmo. É sobre redescobrir e sondar meu amor pelas perguntas, perguntas e mais perguntas. É sobre seguir a incumbência do oráculo de Delfos: “Conhece a ti mesmo”.
Com a introdução / prefácio de Clóvis de Barros Filho e Arthur Meucci, como era de se esperar, começa de uma bastante única (leitores de Clóvis de Barros Filho sabem bem do que estou falando):
Este prefácio é tão objetivo e claro quanto o livro que você adquiriu. Afinal, você já aprendeu que o número de páginas não define a qualidade de um texto, mas o casamento entre o conteúdo e a maneira como ele é transmitido. Esta obra não é uma exegese sobre o pensamento de Sócrates, mas uma belíssima introdução aos não iniciados em Filosofia. Quando os editores brasileiros do Sócrates Café nos procuraram para analisar o livro, eles já esperavam nossa empatia pela postura de Christopher Phillips – um caçador de gurus da autoajuda. Um filósofo americano que se dedica a criticar os picaretas de seu país, principalmente os engajados em vender discursos de vida fácil e próspera. Afinal, o que não falta no mercado editorial estadunidense são livros dizendo quão maravilhosa a vida é e o leitor é um triste imbecil que não conhece os segredos para o sucesso financeiro, religioso, erótico e familiar. Material abundante nas livrarias brasileiras, objeto de consumo de uma classe média desprovida de capital intelectual e de bom senso.
Outro trecho deste início de obra destaca aspectos relevantes que serão tratados a seguir pelo autor:
Todos nós investimos muita energia de pensamento para tentar definir nossa existência no mundo. Buscamos igrejas, palestras e livros tentando nos encontrar na vida e optando por viver um projeto em detrimento de tantos outros, apenas cogitados e preteridos. Para cada decisão tomada, muitas outras vidas possíveis são colocadas de lado. Seguir a vida religiosa ou viver trabalhando? Trocar ou não de profissão? Manter-se casado para ficar próximo dos filhos ou se divorciar para evitar o estresse e as tristezas? Seguir as próprias convicções políticas ou se curvar às opiniões do senso comum? Quando filósofos como Sócrates relacionam o pensamento com a vida boa, não estão se referindo ao que você faz diariamente quando escolhe o carro que vai comprar, a empresa em que vai trabalhar ou o bairro onde pretende morar. Todas essas questões têm a ver apenas com a particularidade da vida de cada um. Estamos limitados a escolher nosso carro, emprego ou onde moramos a partir das possibilidades da nossa condição nanceira, das exigências sociais; da indicação de parentes e amigos etc. Podemos dizer que o seu cotidiano é mais regido pelos fatos sociais estudados pela sociologia do que pela racionalidade losóca. Não há propostas socráticas que o ajudem a escolher essas coisas. Mas, então, sobre o que se deve reetir? Essa pergunta é muito legítima, pois é o tema do livro que você acabou de adquirir.
O autor destaca ainda que
Até hoje, o exemplo de Sócrates continua a nos ensinar como expandir nossos horizontes intelectuais e imaginativos. Foi extremamente crítico daquelas pessoas que deixavam outras pensar por elas. Ele via seu papel como semelhante ao da parteira: ajudava as pessoas a dar à luz suas próprias ideias e também a trabalhar com as crenças específicas com as quais elas podiam escolher viver.
Outro trecho bem bacana destaca que
“Sed omnia praeclara tam dicilia quam rara sunt”, Spinoza escreveu ao final de sua Ética: “Tudo que é excelente é tão difícil quanto raro”. Contudo, nossas ideias de excelência hoje em dia parecem com demasiada frequência atreladas à aquisição de riqueza material. Mas não é excessivamente difícil nem raro para investidores sagazes, com uma soma considerável para começar, acumular mais montes de dinheiro em uma economia em alta.