A Felicidade das Pequenas Coisas

 Lunana: A Yak in the Classroom (2019) on IMDb
“A Felicidade das Pequenas Coisas” (Lunana – A Yak in the Classroom, no original) é um drama butanese de 2019, com todos os ingredientes necessários para nos comover. Acredite, em um momento ou outro certa lágrima brotarão em seu rosto. Digo isso com a melhor das intenções e como um elogio à obra, uma vez que ela consegue nos cativar já nos primeiros minutos. A qualidade da produção é demonstrada nas inúmeras indicações e prêmios que recebeu. A fotografia, um roteiro comovente e boas atuações são certamente as pérolas desta produção.

A história se passa em Lunana, uma região no distrito de Gasa, no noroeste do Butão. Este lugar tão remoto serve de cenário para esta elogiada comédia dramática, escrita, dirigida e produzida pelo estreante Pawo Choyning Dorji, que também é escritor e fotógrafo.

O longa foi bastante elogiado pela revista Variety, que destacou, entre outras coisas, as lindas paisagens e a atuação do elenco, afirmando “É um filme de grande coração, que irá agradar ao público. Seus personagens são maravilhosamente interpretados por um elenco de estreantes.”

As filmagens do longa tiveram de ser muito bem planejadas devido ao inverno rigoroso e das chuvas de verão, elementos típicos daquela região. A fotografia de “A Felicidade das Pequenas Coisas” é assinada por Jigme Tenzing, o único profissional da área no país, que estudou na New York Film Academy. O trailer pode ser visto aqui.

O roteiro nos apresenta Ugyen (Sherab Dorji), um professor desiludido que é transferido para a escola mais remota do mundo, no vilarejo de Lunana, isolada da vida moderna nas profundezas das geleiras do Himalaia. Em uma sala de aula sem eletricidade ou mesmo quadro-negro, ele se encontra com apenas um iaque e uma música que ecoa pelas montanhas.

Dorji conta ainda que escolheu uma câmera estática por influência de Yasujiro Ozu, cineasta japonês, conhecido por seus filmes sobre pessoas comuns. Dorji esclarece “Eu queria que a câmera e a fotografia fossem como a vida de Ugyen. No começo, ela está na mão, a imagem chacoalha, mas com o tempo, conforme ele se estabelece na escola, a imagem fica mais segura, começamos a usar um tripé”.

O diretor esclarece que a maioria do elenco é formada por estreantes e tambem que moram na região. Algumas das crianças, segundo Dorji, nunca nem saíram da vila onde residem. “Quando o personagem diz ‘carro’, elas não fazem ideia do que é isso. Nunca nem foram ao cinema. Para mim, a magia vem daí, dessa pureza que existe nessas crianças. Por exemplo, tem uma cena em que um garoto escova os dentes. Ele nunca tinha feito isso, o gosto da pasta de dente foi uma surpresa. Não há como ensaiar algo assim, a descoberta só acontece uma vez, é preciso fazer a cena e pronto.”

Dorji informa que a ideia para o longa veio em uma viagem aos “cantos mais profundos dos Butão”. O diretor afirma ainda “Percebi que há tanta beleza ali, tanto na paisagem como em relação às histórias. Em todo lugar a que ia, conhecia pessoas inspiradoras com as histórias mais incríveis para contar. Para quem vive numa cidade grande, essas vidas podem parecer infelizes, e, sim, eles levam uma vida dura, mas ainda assim há muita beleza nisso. Essas são as histórias que definem as pessoas do Butão”, disse Dorji em entrevista ao Asia Movie Pulse.

O elenco traz Sherab Dorji, Ugyen Norbu Lhendup, Kelden Lhamo Gurung, Kunzang Wangdi, Tshering Dorji, Sonam Tashi, Pem Zam e Tsheri Zom.