Nos dias atuais, tempos de pandemia, eis que me deparo com uma obra bem interessante de Edgar Allan Poe, chamada “O Baile Da Morte Vermelha” (que também recebeu os títulos “A máscara da morte vermelha” ou ainda “A máscara da morte rubra”). A trama destaca o óbvio da vida: a inevitabilidade da morte.
Lá fora, a peste; aqui dentro, a loucura. Em certa medida, essa formulação resume este conto de Poe que foi publicado pela primeira vez em maio de 1842, e que em seu enredo aborda o desvario diante de uma epidemia. A história narra que uma cidade fora dominada por uma peste terrível e fatal que dizimara metade de sua população. Era chamada de rubra porque sua marca era o sangue, que vazava pelos poros. Tal peste devasta a região, enquanto o destemido príncipe Próspero decide reunir e trancar, em uma abadia fortificada, mil amigos escolhidos entre os cavaleiros e as damas de sua corte. Após algum tempo de confinamento, quando a pestilência atinge o ápice do lado de fora da abadia, o príncipe acha por bem oferecer um baile de máscaras “da magnificência mais extraordinária”. A história destaca tal festa, que, em certo momento, receberá um assustador intruso.
Em 1964, a obra ganhou uma adaptação para o cinema, com o ator Vincent Price no papel do protagonista, Príncipe próspero e dirigido por Roger Corman que filmara uma série de adaptações de contos de Allan Poe, o filme recebeu o título de “A Orgia Da Morte”.
Algumas frases interessantes encontradas no conto:
Mesmo com os totalmente perdidos, para quem a vida e a morte são brincadeiras iguais, há questões que não devem ser tocadas.
Uma alta muralha espessa a circundava com portões de ferro. Os cortesãos, após terem entrado, trouxeram consigo fornalhas, martelos maciços e soldaram os cadeados. Decidiram não deixar meios de entrada ou saída para impedir súbitos impulsos de desespero ou insensatez nos que lá dentro se encontravam.
Porém, ao aposento mais a oeste dos sete, nenhum dos mascarados agora se aventurava; pois a noite desvanecia; e fluía uma luz rubra pelas vidraças cor de sangue; e a escuridão das tapeçarias sombrias provocava temor; e aquele que colocava os pés no negro carpete ouvia escapar do relógio de ébano um abafado estrondo mais solene e enfático do que os que alcançavam os ouvidos daqueles que gozavam alegrias mais remotas nos outros salões.
Uma obra que nos faz refletir sobre segregação, a falta de empatia, o egoísmo que abriga os corações, classes sociais e fim que aguarda todos nós, mais cedo ou mais tarde.
Edgar Allan Poe nasceu em 1809 e faleceu em 1859. Foi poeta, contista, editor e crítico literário americano, tendo sido apresentado ao mundo europeu do século XIX por meio das traduções de Baudelaire. No século XX continuou largamente a ser traduzido em países como França, Espanha e Itália, assim como no Brasil. Poe escreveu poesias, contos de terror, sátiras, contos de humor, reinventou a ficção científica e criou o primeiro detetive de contos policiais modernos. O autor também foi e ainda é o maior representante do romantismo americano e suas obras mais conhecidas eram de estilo gótico. Em 1845, Poe publicou sua obra-prima, o poema O Corvo, The Raven em inglês.