A Queda do Império Americano

Acompanhar a comédia canadense “A Queda do Império Americano” (La Chute de L’Empire Américain, no original), lançada em 2018, foi um exercício de ética e moral (além de uma boa aula de filosofia e história). Mas não vai achando que é o enredo é chato e enfadonho. Não, muito pelo contrário. Aqui é utilizado uma alegoria, repleta de sarcasmos e ironia pra tratar de temas que a tempos rondam nosso imaginário. Afinal, se você, no seu exercício de ir vir (ou no seu trabalho cotidiano), se deparasse com uma mala repleta de dinheiro, você a devolveria (mesmo sabendo que o futuro daquele dinheiro será o bolso de algum criminoso)? Você, que está aí, com tantos planos, com tantos projetos de vida (e um deles é justamente ajudar as pessoas), você entregaria a mala? Não entregar poderia ser considerado roubo? Mas você estaria roubando um ladrão! Então, o que fazer?

Ousado por apresentar as falhas do nosso sistema atual, provando que que estamos em um modelo falido (sob a imitação do modelo americano, a que o título apresenta), o expectador conseguirá com exemplos simples e diretos, vividos no cotidiano, tirar suas próprias conclusões. O enredo que também mistura humor, aventura e crime, consegue de forma bastante divertida e leve, apresentar uma análise espirituosa e comovente, do papel do dinheiro e do poder econômico em uma sociedade em que todos os demais valores sociais parecem ter simplesmente evaporado.​

Em A Queda do Império Americano, conheceremos Pierre-Paul Daoust (Alexandre Landry) que, apesar do seu doutorado em Filosofia, tenta sobreviver às custas de um mísero salário de motorista e entregador de encomendas. Tímido e inseguro, nunca se atreveu a cometer qualquer tipo de ilegalidade, afinal são contra seus princípios. Mas um dia, depois de assistir bem de perto a um assalto, acaba pegando dois sacos cheios de dinheiro e esconde-os em seu veículo de trabalho. Nesse momento, o homem que nunca tivera nada a esconder, transforma-se num criminoso procurado pela polícia. É então que resolve aconselhar-se com um conhecido, Sylvain (Rémy Girard), cujos conhecimentos sobre crime são, feliz ou infelizmente, bem mais vastos do que os seus e extremamente necessários naquele momento. Em meio a isso tudo, Pierre-Paul terá ainda que lidar com sua paixão por Camille (Maripier Morin), algo nada recomendado, em meio a essa situação ‘criminosa’.

Com a direção e roteiro de Denys Arcand, o filme marca o fim de uma trilogia, depois de O Declínio do Império Americano (1986) e As Invasões Bárbaras (2003). O elenco traz Alexandre Landry, Maripier Morin, Pierre Curzi, Rémy Girard, Maxim Roy, Louis Morissette, Florence Longpré, Vincent Leclerc, Yan England, Rémy Deloume, Patrick Emmanuel Abellard, James Hyndman, Eddy King, Paul Doucet, Denis Bouchard, David Savard e Rose-Marie Perreault.

No momento em que escrevo, o longa está disponível na Netflix, Apple TV+ e Youtube Filmes. O trailer está disponível aqui.