Lançado em 2017, “Amor para corajosos – Reflexões proibidas para menores” de Luiz Felipe Pondé, é uma obra interessante por diversas óticas. Talvez a acidez do autor tenha contribuído para que eu a achasse tão verdadeira. No livro não há espaço para muito romance ou “beijos e abraços”. A análise de Pondé sobre diversos aspectos ligados ao amor é feita de forma nua e crua, sem usar muito da beleza que outras obras trazem em torno do tema principal.
Uma reflexão encontrada na obra é referente ao poeta Vinícius de Moraes que ensinava a amar “porque não há nada melhor para a saúde que um amor correspondido”. Dito isso, então se não há nada mais importante do que amar, pensar o amor em suas diversas formas e vínculos é fundamental, não é mesmo?! Pois é isso que é feito em Amor para corajosos.
Pondé pega na mão do leitor e o leva para um passeio sobre este tema tão importante, mas também confuso e por vezes, místico. Mas não se engane: não se trata de um manual para amar melhor ou ainda um estudo acadêmico sobre a temática. Pondé faz uso de sua tradicional prosa ao mesmo tempo provocativa e elucidativa, escrevendo uma série de ensaios que podem ser lidos aleatoriamente ou na ordem sugerida pelo autor. Pondé parte de uma diferença filosófica entre o que seria um “amor kantiano” – que busca estabilidade e respeito – e um “amor nietzschiano” – aquele da paixão avassaladora (tão comum e difundido por aí).
Claro que o foco principal é o amor romântico que era chamado pelos medievais de “doença da alma”. Pondé faz uso da filosofia, das ciências sociais e da cultura para analisar questões eternas e outras mais contemporâneas, entre elas: O amor pode conviver com rotinas? O amor tem cura? É ético abrir mão do amor em nome de obrigações familiares? Como saber se você é um canalha ou uma vagabunda? É possível confiar numa mulher? Como curar a atávica insegurança masculina? E quando o amor morre?
E como era de se esperar e como o próprio título sugere, o livro espera instigar o leitor ao exercício do amor. Mas, conforme informa o próprio autor, o amor é uma experiência prática, jamais teórica.
Luiz Felipe Pondé (Recife, 1959) é filósofo, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). É mestre em filosofia pela Universidade Paris VIII, doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutor pela Universidade de Tel Aviv. Colunista da Folha de S. Paulo, é autor, entre outros, de Guia politicamente incorreto da filosofia (2012), A era do ressentimento (2014), Filosofia para corajosos (2016), além de coautor de Por que virei à direita (2012).
A seguir destaco alguns trechos interessantes da obra:
Se você nunca entendeu a razão de a literatura estar cheia de exemplos de pessoas que “morrem de amor”, nenhuma teoria do amor vai salvá-lo do vazio que é nunca ter sofrido de amor.
Um dos maiores medos contemporâneos é o medo do afeto.
O amor mais forte é aquele assassinado. Aquele esmagado pela interdição. Aquele que destrói suas vítimas. Aquele que tira qualquer sentido da vida. Amor é doença. E que ninguém duvide disso.
Quem nunca se perdeu no amor é falso de alguma forma.
Uma das desvantagens da felicidade é que ela tira de você o direito de ser vítima, e ser vítima é quase sempre um bom negócio quando a sociedade depende tanto de hábitos de infelicidade para manter as pessoas sorridentes. Ser vítima é, muitas vezes, uma garantia de segurança moral na vida: a vítima “nunca” é a culpada na relação.
Um dos efeitos mais regeneradores do amor é a capacidade dele de restituir o amor-próprio e a autoconfiança. Pessoas que se apaixonam e são correspondidas nessa paixão tendem a ter mais força para tomar decisões difíceis e, acima de tudo, se veem de forma mais criativa e ousada.
A ideia de que o amor seja para imaturos é uma confissão velada de tristeza causada pela perda do amor, ou de uma vida ressecada pela falta de amor. Nunca mais diga isso por aí, porque, além de desnudar seu cinismo a serviço da vergonha, pode revelar sua tristeza.
Uma das maiores mentiras de nossa época é o suposto amor pelo diferente.
Amar será sempre uma forma de agonia.
Às vezes, a bondade pode ser uma forma de abuso.