Como fazíamos sem…

Livros de fatos curiosos sempre chamam a atenção de curiosos, já parou para reparar? Pois é. Claro que nem sempre o aspecto mais relevante é a profundidade do fato em si, mas sim a explanação feita de maneira simples, de forma a atingir o máximo de pessoas possível. Com isso, estas obras podem atingir crianças, jovens e adultos na mesma proporção, justamente pela forma como são construídos pela linguagem que é empregada.

Publicado originalmente pela Panda Books em 2006, o livro “Como fazíamos sem…” de Bárbara Soalheiro, com ilustrações de Negreiros, é um destes livros que reúne curiosidades diversas sobre coisas cotidianas, que sequer paramos para pensar (justamente por estarmos tão habituados com elas). Assim, o livro nos apresenta um vislumbre da maneira como nossos antepassados viviam através de itens comuns e rotineiros. A obra é dividida em 6 temas (ou tópicos) principais: alimentação, comunicação, habitação, roupas e acessórios, saúde e higiene, sociedade, trazendo subtópicos relacionados com uma linguagem fácil e bom humor, mostrando paralelos com o passado, além de belas ilustrações.

Você sabia como se fazíamos sem água limpa? Pois é hoje a coisa é simples. Você abre a torneira do filtro – ou a garrafinha de água mineral – e mata a sede à vontade. Mas, para nossos antepassados, água costumava ser um problemão: um gole podia levar à morte. E tomá-la não era o único problema. Neste livro, você vai descobrir como era a vida nos tempos em que certos objetos (que hoje podem ser até banais) não haviam sido inventados ainda. Descubra como fazíamos sem água limpa, fósforos, vaso sanitário, óculos, anestesia, banho, papel higiênico, cemitério, divórcio, sobrenome e outras coisinhas mais.

Na apresentação da obra, feita por Pedro Bandeira, ressalta-se nosso gosto por fatos curiosos:

Quem é que não adora armazenar curiosidades que, se não são úteis para aumentar nossos salários, são tão indispensáveis quanto as piadas na hora daqueles bate-papos com os amigos. Sabe a hora que falta assunto e pinta um silêncio no meio da conversa ou aqueles dez segundos em que ninguém manda mensagem no MSN e parece que acabou o assunto? Aí vem algum engraçadinho com a “última” piada que você já ouviu há vinte anos. E, se você é daqueles que não consegue sacudir a plateia às gargalhadas, esse é o momento de sacar do bolso da memória alguma curiosidade histórica que funciona bem mais do que a melhor das anedotas.

Em um vídeo disponibilizado pela editora, a autora Bárbara Soalheiro explica em pouco mais de um minuto o que o leitor encontrará em sua obra.

Vale ressaltar que o livro que ganhou o prêmio Jabuti em 2007. Repleto de bom humor, a sua leitura irá te conquistar.

Alguns trechos interessantes (e engraçados):

Há mais ou menos oito mil anos – quando o homem ainda era nômade (ou seja, vivia vagando pelo mundo) e nem sempre encontrava água boa para beber –, alguém deixou alguns grãos de cevada ao relento e eles fermentaram naturalmente, por causa do contato com a umidade do ar. Algum corajoso experimentou o líquido que resultou da experiência acidental e percebeu que ele não provocava indigestão (afinal, o processo de fermentação impede a reprodução de bactérias). Para não ter de passar o resto da história bêbado, o homem começou cedo a inventar sistemas de filtragem – alguns, aliás, bem parecidos com os que usamos hoje. Há registros mostrando que, em 2000 a.C., já se recomendava ferver a água ou fazê- -la passar por um filtro de areia. Outras medidas, no entanto, não eram nada eficazes, como deixar a água no sol ou colocar um pedaço de ferro quente dentro do recipiente.

Em 1854, um poço da rua Broad, na cidade de Soho, Inglaterra, fazia tanto sucesso que as pessoas vinham de outros bairros para pegar água ali, dizendo que o sabor era melhor. O que elas não sabiam é que o poço estava contaminado com o vibrião do cólera. Muita gente morreu até descobrirem a ligação entre a água e a doença, e o caso serviu de estopim para o país implantar os primeiros sistemas municipais de filtragem e distribuição de água.

Olhando hoje, é difícil de acreditar que a caixinha de fósforos seja uma invenção tão moderna. Mas é. Moderna e trabalhosa. Muitos cientistas, de várias nacionalidades, tiveram de dar duro para transformar o fogo em um simples gesto de fricção. Tudo começou em 1669 com o químico alemão Henning Brand e seu xixi. Henning era obcecado pela ideia de transformar qualquer coisa em ouro e percebeu que a cor amarelada da urina era muito parecida com a do metal precioso. Se as cores são parecidas, ele pensou, as duas coisas também devem ser! Assim, Henning encheu um balde de xixi e deixou alguns dias guardado para ver se endurecia. Essa experiência nojenta resultou num líquido cheio de placas brancas, que Henning resolveu esquentar para ver o que acontecia. É claro que não encontrou ouro, mas acabou descobrindo um elemento químico sólido branco que pegava fogo em contato com o ar.

Bárbara Soalheiro é jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Cursou disciplinas da Faculdade de Jornalismo da Universidade Complutense, em Madri entre 2001 e 2002, como relações internacionais. Participou na produção de grandes revistas comportamentais e colaborou com diversos artigos em muitos veículos de comunicação.