Será que, para crermos em algo, os símbolos são importantes? E se descobríssemos que esses símbolos não são exatamente como nos contaram (ou como está documentado)? E se nos fosse oferecido a possibilidade de retornar ao passado e chegando lá, encontrássemos os personagens históricos bíblicos de uma forma completamente diferente do que é narrado nas escrituras? Interessante, não?! Pois o enredo de Eis o Homem, de Michael Moorcock é esse! Apesar de ser um livro relativamente curto, a história é bem construída e nos leva a refletir uma série de questões.
Na sinopse oficial consta um breve resumo e um claro vislumbre do que está por vir:
Karl Glogauer é um homem dos nossos tempos. Quando o destino lhe oferece a possibilidade de viajar no tempo, ele não tem dúvidas quanto ao lugar e à época que quer visitar: a Terra Santa no tempo de Jesus. Mas o que poderia ser uma viagem turística à morte do Messias e ao nascimento da maior religião do mundo revela-se uma desilusão: Maria é a libertina da aldeia, José um velho amargo e Jesus Cristo apenas um deficiente mental. Devotado ao ideal de um Jesus real e histórico, Karl acredita que tem de fazer alguma coisa. Reunindo seguidores, repetindo parábolas que consegue recordar e usando truques psicológicos para simular milagres, Karl toma o lugar do Messias. Mas fará sentido um Messias que, no final, não morra na cruz?
Para aqueles que não sabem, Michael Moorcock é um escritor britânico da área de fantasia e ficção-científica. Dito isso, não espere que o livro contenha um texto de puramente religioso ou mesmo direcionado cegamente a uma crença. Moorcock, que já recebeu diversos prêmios, teve a publicação de Eis o Homem (originalmente lançado como Behold the Man) como um conto em 1966, na revista New World, e em 1969 publicado pela primeira vez a sua versão definitiva.
De uma forma divertida e descontraída, o enredo apresentado não deixa de levantar importantes questões, como o antagonismo entre religião e a ciência. Isso nos leva a pensar se devemos ter uma crença em algo um ser celestial ou se necessitamos ter algo concreto em que possamos acreditar.
O título da obra não foi escolhia à toa e é notadamente retirada do livro de João:
Quando Jesus veio para fora, usando a coroa de espinhos e a capa de púrpura, disse-lhes Pilatos: “Eis o homem!” João 19:5
Assim, Eis o Homem não é indicado a todos os públicos. Aqueles que esperam encontrar uma história bíblica nos moldes do que estamos acostumados a ver e ter contato em nossa sociedade ocidental (predominantemente cristã), certamente se decepcionarão, o que não foi o meu caso. Muito pelo contrário. Achei a proposta interessantíssima, provocador e atual.