A arte nem sempre imita a vida. Sendo assim, não se deve esperar que adaptações para o cinema de fatos verídicos sejam fidedignos. Por outro lado, precisa-se temperar a vida com um pouco de magia e arte, senão tudo fica muito real e a realidade assombra (e quase sempre é feia mesmo). “Freud”, série austro-alemã lançada em 2020 pela Netflix, segue à risca esta receita, tendo um personagem baseado em Sigmund Freud, o pai da psicanálise, mas ao mesmo tempo não carregando o compromisso de retratar fielmente sua vida. O resultado? Uma mistura de Sherlock Holmes, Hannibal e obras relacionadas a mistério. O roteiro segue como uma aventura policial e momentos sombrios, com alguns eventos e nomes reais. Essa salada é divertida e funciona, entretanto não tem o compromisso que uma biografia séria costuma ter. Ficou curioso? O trailer pode ser visto
aqui.A trama apresenta em oito episódios, o doutor Sigmund Freud (Robert Finster), aos seus 30 anos de idade e recém-formado na Universidade de Viena, em 1886. Freud contraria seus mestres com a defesa de uma nova abordagem à psiquiatria, utilizando a hipnose. É neste cenário que ele acaba envolvido por acidente em um estranho caso de homicídio, vendo a oportunidade de testar e provar seus métodos. Assim, Freud se une à um policial, Alfred Kiss (Georg Friedrich) e a médium chamada Fleur Salomé (Ella Rumpf) para solucionar o crime. Aliás, interessante ressaltar que a inspiração óbvia para esta personagem feminina é a musa da psicanálise, a russa Lou Andreas-Salomé (1861-1937). A investigação em curso acaba por revelar uma grande conspiração criminosa na cidade.
Com uma boa dose de elementos relacionados à horror, ocultismo e violência, além do suspense policial, a série criada por Marvin Kren, Benjamin Hessler e Stefan Brunner retrata um jovem Freud, investigador de crimes e conspirações (que envolvem inclusive elementos sobrenaturais) e isso pode não agradar aos fãs do renomado médico. Mesmo assim, a trama tenta apresentar através das experiências perturbadoras de Freud, como ele criou seus estudos, métodos e teorias. A psicanálise, bem como o conceito de ID, ego e superego vieram a existir graças a tudo que ele experimentou, vivenciou e pesquisou, afim de conhecer profundamente a mente humana.