Como de costume, venho lendo os volumes da Coleção 90 minutos, escrita por Paul Strathern. Esta série que conta com inúmeros volumes, traz breves resumos sobre as grandes personalidades da filosofia, ciência, entre outras importantes áreas do conhecimento humano. Trazendo uma leitura leve, bem desenhada e com fatos importantes, Strathern consegue, através de textos curtos e diretos, nos fazer refletir sobre a vida e o pensamento destas importantes mentes. A leitura da vez foi o livro “Kierkegaard Em 90 Minutos”.
Søren Aabye Kierkegaard nasceu em Copenhague em 5 de maio de 1813. Foi filósofo, teólogo, poeta e crítico social dinamarquês, considerado por muitos como o primeiro filósofo existencialista. Durante sua carreira Kierkegaard escreveu textos críticos sobre religião, cristianismo, ética e moralidade, psicologia e filosofia da religião. Como autor, ele mostrava um gosto particular por figuras de linguagem como a metáfora, a ironia e a alegoria. Parte do seu trabalho filosófico aponta para questões de como alguém vive sendo um “único indivíduo”, priorizando a realidade humana concreta sobre o pensamento abstrato e destacando a importância da escolha e do comprometimento pessoal. Kierkegaard se posicionou contra os críticos literários chamados de idealistas e contra filósofos de seu tempo. Søren Kierkegaard morreu em Copenhague em 11 de novembro de 1855, aos 42 anos. Embora a causa de sua morte não seja clara, estudos recentes apontam que a possível causa foi uma doença na coluna vertebral, embora, ao longo da história, tenha-se atribuído também a tuberculose como uma causa.
Paul Strathern destaca que levou algum tempo para o existencialismo pegar, já que alguns filósofos, como Nietzsche, Husserl e Heidegger, foram existencialistas sem saber (segundo os próprios existencialistas). Heidegger negou-o com veemência e Nietzsche morreu antes que alguém pudesse lhe dizer isso. Só quase um século após a morte de Kierkegaard o existencialismo vingou, com o aparecimento em Paris do filósofo francês Jean-Paul Sartre após a Segunda Guerra Mundial.
Kierkegaard não foi um filósofo no sentido acadêmico do termo. Mas produziu o que muita gente espera da filosofia. Não escreveu sobre o mundo, escreveu sobre a vida, sobre como as pessoas vivem e como escolhem viver. Seu tema foi o indivíduo e sua existência – o ‘ser existente’. Na visão de Kierkegaard, essa entidade puramente subjetiva está além do alcance da razão, da lógica, dos sistemas filosóficos, da teologia ou mesmo das ‘pretensões da psicologia’. No entanto, é a fonte de tudo isso. O ramo da filosofia criado por Kierkegaard acabaria conhecido como existencialismo.
Vale destacar que o trabalho inicial de Kierkegaard foi escrito sob diversos pseudônimos que ele usava para apresentar pontos de vista distintos e interagir uns com os outros em um diálogo complexo.
Kierkegaard Em 90 Minutos é recomendado para aqueles que ainda não conhecem e desejam saber mais um pouco mais sobre as inquietações de Kierkegaard e o existencialismo.
Algumas de suas citações interessantes encontradas no livro:
A primeira coisa a entender é que você não entende.
Ao nascer, fazemo-nos ao mar com ordens lacradas.
Quanto mais um homem é capaz de esquecer, maior o número de transformações que sua vida pode sofrer; quanto mais é capaz de lembrar, mais divina a vida se torna.
Quando eu morrer, ninguém descobrirá entre os meus papéis uma observação que contenha a chave da minha vida (o que é um consolo para mim). Ninguém descobrirá palavras que expliquem tudo e que muitas vezes fazem o que o mundo consideraria uma ninharia parecer um evento de tremenda importância para mim ou algo que eu considere extremamente importante uma vez despido de seu verniz protetor.
O propósito da minha vida pareceria ser a expressão da verdade à medida que a descubro, mas de tal modo que fica completamente despojada de autoridade. Não tendo autoridade, sendo visto por todos como extremamente não confiável, expresso a verdade e deixo todos numa posição contraditória em que só se podem salvar tornando sua a verdade.
A subjetividade, a interioridade, é a verdade — essa é a minha tese.
A filosofia está bem certa quando afirma que a vida deve ser entendida em retrospecto. Mas nos esquecemos do outro princípio, de que deve ser vivida para adiante. Quando analisamos este último princípio, inevitavelmente chegamos à conclusão de que a vida no tempo jamais pode ser adequadamente entendida — porque nenhum momento que se vive pode adquirir a completa quietude necessária para essa orientação retrospectiva.
Se a ciência fosse desenvolvida no tempo de Sócrates como é hoje, os sofistas e aqueles que pretendiam ensinar filosofia teriam sido cientistas. Teriam pendurado microscópios nas portas para atrair negócios e colocado avisos anunciando: “Aprendam e vejam num poderoso microscópio como a humanidade pensa.” (E ao ler esse anúncio, Sócrates teria dito: “É exatamente assim que se comportam os homens que não pensam.”)
A fé é um absurdo. Seu objeto é extremamente improvável, irracional e para além do alcance de qualquer argumento… Suponhamos que alguém decida que quer adquirir fé. Acompanhemos essa comédia. Ele quer ter fé, mas ao mesmo tempo também quer ter a certeza de que está dando o passo certo — então empreende um exame objetivo da probabilidade de estar certo. E o que acontece? Por meio desse exame objetivo da probabilidade, o absurdo torna-se algo diferente: torna-se provável, cada vez mais provável, extremamente provável, absolutamente provável. Agora essa pessoa está pronta para acreditar e diz a si mesma que não acredita da mesma maneira que os homens comuns, como sapateiros ou alfaiates, mas apenas depois de ter pensado toda a questão de forma adequada e compreendido sua probabilidade. Agora está pronta para acreditar. Mas vejam, nesse exato momento torna-se impossível para ela acreditar. Algo que é quase provável, possível ou extrema e absolutamente provável é algo que a pessoa pode quase conhecer, praticamente conhecer ou bem aproximadamente conhecer — mas é impossível crer. Pois o absurdo é objeto de fé e o único objeto que pode ser crível.