Enquanto vasculhava a Internet atrás de um bom livro que tratasse de assuntos ligados à ética e a moral, me deparei com “La Ética Explicada A Todo El Mundo” de Roger-Pol Droit. Confesso que não conhecia o autor e nem suas obras. Mergulhei de cabeça como quem aponta rumo ao vazio. E o resultado? Uma grata surpresa! A obra é apresentada e espanhol e é de fácil leitura, mesmo para aqueles que não dominam este idioma.
É sabido que todo mundo fala sobre ética, principalmente na atualidade. Seja nos negócios, nos esportes, na mídia, na medicina… A palavra ética entrou de vez em nosso cotidiano. Entretanto, não podemos dizer que seu significado é totalmente claro e objetivo a todos. É simplesmente moral? Ou trata-se de criar novas regras? E quem deve refletir? Apenas os especialistas ou cada um de nós?
Com estilo límpido, claro e transparente, Roger Pol-Droit leva-nos a conhecer a história da palavra. O autor esclarece de forma pedagógica os pontos-chave das crenças religiosas e da análise filosófica. Por meio de perguntas e respostas, o autor nos lembra a origem da palavra “ética” e nos leva a uma viagem pela história sobre a origem e o significado dessa palavra, tentando nos explicar de forma acessível e clara como a palavra se formou, como ela evoluiu, expondo as principais abordagens que distinguem as escolas de pensamento e trazendo à tona as estreitas ligações e diferenças entre discussões filosóficas antigas e debates atuais.
Nesta sua 1ª edição lançada em setembro de 2010, o autor esclarece que em todos os lugares têm se falado de ética. Ele aponta:
Nunca se usou tanto essa palavra tão profusamente como hoje. Nós a encontramos todos os dias em inúmeros discursos, impressos em todas jornais e em inúmeros livros, ouvimos na rádio, na televisão, na escola, na universidade. Nossa época está preocupada com a ética na muitas áreas: nos negócios e na vida economia (onde a crise atual revelou quantas regras são necessárias), nos esportes (onde o doping e a viciação de resultados ameaçam destruir o conceito de “fair play”), nos meios de comunicação (onde o informação é muitas vezes tendenciosa ou manipulada). E, além disso, a medicina tornou-se um campo onde os debates éticos estão na ordem do dia. Graças às novas técnicas, Hoje são possíveis situações que antes eram impensáveis. Situações que ameaçam mudar radicalmente a existência humana, bem como como sistemas de parentesco e filiação, e que nos obrigam a nos perguntar o que deve ser promovido, autorizado ou proibido. E em nome do que deve ser feito uma coisa ou outra. Esses perguntas são o que moldou o que nas últimas décadas à bioética, campo de reflexão que acolhe debates filosóficos fundamental: o sentido da vida, os limites da nossa intervenção na matéria viva, ou mesmo dignidade humana.
Mesmo com um tom introdutório, o autor nos convida a refletir sobre questões mais profundas:
Imagine uma sociedade inteiramente dominada por uma religião e tendo apenas autoridade para proclamar o que deve ser feito. Sua tradição dita quais comportamentos e quais valores são o que seguir. Nesse caso, praticamente não há espaço para reflexão. É verdade que podemos nos perguntar como aplicar esta ou aquela regra em um caso complicado, mas, em geral, basta seguir as regras: a solução existe, independentemente de qualquer reflexão. A verdade já está dada, já está fixada, já é conhecida. Não tem que fazer ou construir.
Ele continua:
Não importa a nossa idade, se somos homem ou mulher, nossa religião, nossa língua e até nossa época: há muitas situações de emergência em que todos os seres humanos concordam espontaneamente em qualificar um problema como “bom” certos tipos de ações. Isso significa que é uma realidade incontestável? É uma aparência? Que conclusões devem ser tiradas disso? Entre os problemas que a reflexão sobre a ética destaca está a questão de saber se existem impulsos ou sentimentos totalmente universais e se podemos extrair regras válidas que sejam realmente válidas para todos e em todos os lugares.
Vale destacar que da sabedoria da antiguidade à bioética de amanhã, as perspectivas mudam. Mas o eixo central permanece o mesmo: não há melhor guia em questões de ética do que a preocupação com os outros. Isto fica bastante evidente por toda a obra.
Roger-Pol Droit é escritor e filósofo. Publica regularmente artigos no Le Monde, Le Point, Les Échos, Clés. É autor de mais de trinta obras, várias delas traduzidas ao redor do mundo, incluindo Entrevistas com Michel Foucault, Religião explicada à minha filha e Pequenas experiências filosóficas entre amigos, todas publicadas pela Paidós.