O que dizer ao finalizar a leitura de “Laranja Mecânica”? Difícil dizer. Lançado em 1962 pelo inglês Anthony Burgess sob o título original “A Clockwork Orange”, a obra é um best-seller e ao lado de “1984” (de George Orwell) e “Admirável Mundo Novo” (de Aldous Huxley) é definitivamente um dos grandes clássicos literários mundiais, que aborda a alienação pós-industrial vivida durante o século XX. O livro foi adaptado para o cinema por Stanley Kubrick em 1972.
A obra se torna ainda mais significativa quando descobrimos que foi inspirada em uma situação real lamentavelmente ocorrida em 1944: o estupro da primeira mulher do autor, Lynne, por quatro soldados americanos. O livro apresenta uma leitura um tanto quanto difícil, já que Burgess criou uma língua própria (chamada “Nadsat”) para fazer a narrativa da história, repleta de gírias. Apesar do desconforto e estranhamento quanto à linguagem, depois de um certo tempo, os termos vão se tornando comuns e facilmente identificáveis. Para os que necessitarem, ao final da obra, há um glossário com tais termos utilizados durante a narrativa.
Mas do que se trata a história? Bem, o romance situa-se na sociedade inglesa em um futuro distópico, permeada por uma cultura juvenil de extrema violência. O foco está no protagonista Alex que, além de ser amante da música clássica (principalmente Beethoven), é líder de uma gangue de delinquentes, que roubam e estupram. Alex, em um de seus delitos, acaba sendo preso e torna-se o objeto de um experimento / tratamento chamado “Tratamento Ludovico”. Criado pelo Estado, este tratamento tem por objetivo reduzir os impulsos destrutivos de delinquentes e neste cenário, Alex é a cobaia perfeita. Após passar pelo tratamento, retorna à sociedade aparente curado. É quando surgem os “efeitos colaterais”.
Alguns trechos interessantes da obra:
“A virtude vem de nós mesmos. É uma escolha que só a nós pertence. Quando alguém não pode escolher, deixa de ser humano.”
“A tentativa de impor ao homem, uma criatura evoluída e capaz de atitudes doces, que escorra suculento pelos lábios barbados de Deus no fim, afirmo que a tentativa de impor leis e condições que são apropriadas a uma criação mecânica, contra isso eu levanto minha caneta-espada.”
“Se te deixares levar pelo desespero, não terás forças nos momentos de angústia.”
“Alguns de nós têm que lutar. Existem grandes tradições de liberdade a defender. Não sou homem de partidos políticos. Onde vejo a infâmia, busco erradicá-la. Os partidos políticos não significam nada. A tradição da liberdade significa tudo.”
“O que Deus quer? Será que Deus quer bondade ou a escolha da bondade? Será que um homem que escolhe o mal é talvez melhor do que um homem que teve o bem imposto a si?”
“É engraçado como as cores do mundo real só parecem reais de verdade quando você as vê na tela.”
“O importante é a escolha moral. O mal tem que existir junto com o bem, para que a escolha moral possa funcionar. A vida é sustentada pela oposição das entidades morais.”