Ler, Pensar e Escrever

Publicado originalmente em 1995 pela editora Arte & Ciência, e mais recente pela Editora Saraiva, o livro “Ler, Pensar e Escrever” de Gabriel Perissé se mantém-se atualizado por mais de duas décadas. Leitura fundamental principalmente para nossa geração que mal lê, mal escreve e quando muito, pensa. Apesar do título não é direcionada apenas a estudantes de letras. Por vezes, bastante motivacional, a forma com que o livro foi pensada, auxilia o leitor inicialmente no processo de leitura, no desenvolvimento do ato de pensar, guiando-o por consequência para o ato de escrever.

A sinopse oficial informa:

Ler, pensar e escrever são três ações “triviais” que constituem base imprescindível para o exercício da curiosidade e da autoexpressão, para o aperfeiçoamento intelectual e profissional e, sobretudo, para o nosso crescimento como pessoas, seres da palavra. Quem lê melhor aprende a pensar melhor. E a escrever com mais espontaneidade. Quem pensa ao lado de bons autores, concordando ou não com eles, lê o mundo com mais profundidade. Quem gosta de escrever e procura criar um estilo pessoal faz seus leitores pensarem com mais perspicácia. Neste livro, não há receitas mágicas, conselhos infalíveis ou macetes descartáveis. Não seremos “libertados” da responsabilidade de aprender por conta própria que ler, pensar e escrever são ações simultâneas ao existir. Todo leitor exigente se torna pensador qualificado quando começa a agir como coautor dos textos que lhe caem sob os olhos. O próximo passo é assumir a autoria de suas ideias e convicções, experimentando o prazer trabalhoso da escrita. A leitura que nos compromete, provoca e estimula deve transcender as páginas impressas. O diálogo que aqui se inicia prossegue no blog <http://ler-pensar-e-escrever.blogspot.com>, mantido por Gabriel Perissé.

O autor destaca que ler é um exercício e, que por isso, envolve os cinco sentidos:

Com a vista, naturalmente; com o tato, segurando o livro; com a audição, ouvindo o barulho das páginas ao serem folheadas; com o olfato, sentindo o cheiro da tinta impressa; e com o paladar, quando umedece o dedo indicador na língua para virar as páginas com mais facilidade.

Perissé esclarece ainda que

escrever envolve amor, paixão e necessidade. Sua dica é relativamente simples:
[…] começar a escrever escrevendo […] Começamos aos poucos, palavras jogadas aqui e ali, e continuamos, cavando mais fundo em busca daquilo que somos, de nossas preferências e limitações, nosso perfil, nossos vulcões, nossas ilhas, nossos mares. […] É possível encontrar na escrita um sentido para viver.

Outros trechos que merecem ser mencionados:

Para redigir cartas de amor ou comerciais, contos, crônicas, relatórios, ensaios, romances, monografias, dissertações, reportagens, poemas, páginas de um diário ou mesmo um simples bilhete é preciso, antes de mais nada, ter uma coisa muito pessoal a dizer. E é isso o que nenhum livro do mundo pode suprir: a personalidade de quem pensa e escreve. A sua personalidade.

Inteligência vem da palavra latina intus-legere, ler (legeré) dentro (intus). Dentro do quê? Dentro da realidade. A realidade é o que está aí, na nossa frente. Mas a realidade adora ficar de costas, como lembrava Chesterton, e é preciso realizar um certo esforço para ver o seu rosto. Este esforço é perguntar, pensar, refletir. A acomodação mental gera a acomodação existencial, que por sua vez provoca a acomodação gramatical, vocabular, argumentativa e criativa.

Treinar vem do verbo francês traíner, que significa arrastar-se pelo chão, progredir lentamente, mas depois ir em frente com rapidez, deslizando como um trenó (palavra que vem também daquele verbo). Treinar é trabalhar continuamente, esforçar-se sem cessar para adquirir a rapidez ea espontaneidade. Treinar com sucesso é determinar para si mesmo(a) certos limites e barreiras que, superados, darão maior flexibilidade, mais agilidade a quem os superou.

Antonio Carlos Villaça comentava: “Escrever é para mim libertar-me. A literatura é uma forma de libertação. Sendo, como é, uma forma de conhecimento e de comunicação ou comunhão. Quando escrevo, busco vencer o tempo e a morte. Busco vencer a solidão. Busco ser amado pelos outros”

Gabriel Perissé é professor universitário, poeta, editor e tradutor. Graduado em Letras e pós-doutor em Filosofia e História da Educação, já publicou mais de 20 livros sobre leitura e criatividade, ética e formação de professores e, desde 1983, tem ministrado palestras e minicursos sobre educação.