O mais engraçado é que a primeira vez que tive contato com esta obra foi através de uma das canções da banda de metal Angra. A canção, na voz do falecido André Mattos, era na verdade uma regravação de Wuthering Heights, de Kate Bush. E, como era de se esperar, a letra traz referências aos personagens da obra.
Dirigida por Andrea Arnold, com roteiro escrito por Arnold e Olivia Hetreed, esta versão de “O Morro dos Ventos Uivantes” (Wuthering Heights, no original) foi lançada em 2011 e, como todas as outras versões, é uma história de perda, de restauração, de resgate e de superação, mas, acima de tudo, de dor.
Apesar de já ter um conhecimento básico sobre o enredo, notadamente percebi que o monomito, também chamado de ‘jornada do herói’, foi devidamente aplicada na construção do roteiro. Curiosamente este conceito de jornada cíclica está presente em inúmeras histórias de mitos, de acordo com o antropólogo Joseph Campbell. Como conceito de narratologia, o termo aparece pela primeira vez em 1949, no livro de Campbell The Hero with a Thousand Faces (“O Herói de Mil Faces”), mais de 100 anos após a história de Wuthering Heights ter sido escrita. Aliás, Arnold descreve o cenário em que se passa a história, como uma Yorkshire no final dos anos 1700 situando uma sociedade brutal e selvagem, onde animais são maltratados e sutilezas humanas rejeitadas. Ficou curioso, certo? Não é para menos. Este é um dos clássicos mais aclamados da literatura britânica e mundial.
É de se notar ainda que O Morro dos Ventos Uivantes é claramente uma história contada com uma boa dose de pessimismo e melancolia, em uma velocidade e tempo que pode não agradar a aqueles que desejam um desenrolar vibrante e dinâmico. Aqui, a construção dos personagens vai ser feita aos poucos e a história, por assim dizer, é fundamentada nos traumas e em um rancor familiar, se apresentando como é um drama trágico à moda antiga, com o cenário próprio, contada sob uma visão fria e um clima bastante peculiar. A narrativa intensa sobre a relação de dois jovens, de origens sociais diferentes, em tempos de intolerância e rigidez social na Inglaterra é cuidadosamente exibida.
A história nos apresenta Mr. Earnshaw, um fazendeiro de Yorkshire que, em uma visita a Liverpool encontra um menino sem-teto nas ruas. O pequeno Heathcliff (James Howson) é um menino pobre e de origem desconhecida que acaba sendo adotado pelos Earnshaw, que, naquela altura, era uma rica família na Inglaterra. Com o tempo, Heathcliff passa a desenvolver um relacionamento intenso e quase obsessivo por Catherine Earnshaw (Kaya Scodelario), sua irmã adotiva, filha do fazendeiro. Quando descobre que ela irá se casar com Edgar Lindon (James Northcote), Heathcliff resolve fugir para fazer fortuna, de forma a no futuro retornar e conquistá-la. Durante o percurso, porém, Heathcliff passará por inúmeras provações e desafios.
O elenco traz Kaya Scodelario, Shannon Beer, James Howson, Solomon Glave, Oliver Milburn, Nichola Burley, Eve Coverley, James Northcote, Jonny Powell, Lee Shaw, Amy Wren, Steve Evets, Paul Hilton, Simone Jackson e Michael Hughes.
O trailer pode ser visto aqui.
