O Pastor Amoroso

Com versos livres e uma linguagem simples e familiar, “O Pastor Amoroso” de Fernando Pessoa / Alberto Caeiro é uma obra gostosa de ler, podendo ser lida em poucos minutos e que foca no amor e na natureza. A obra também aborda as transformações que agem sob o homem que está amando, realçando desde o encontro, o encantamento, até a perda do amor. Destaca-se ainda a diferença entre quem ama e quem não ama: “Quem ama é diferente de quem é. / É a mesma pessoa sem ninguém”.

Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, no ano de 1888 e Alberto Caeiro foi de seus heterônimos. Pessoa escreveu vários dos mais belos versos da língua portuguesa, assim como contos e peças, tornando-se um dos principais nomes da poesia moderna mundial. Faleceu em 1935, tendo concluído apenas o ensino primário.

A poesia de Alberto Caeiro é marcada pela objetividade e simplicidade. Fernando Pessoa considerava-o como o maior de seus heterônimos.

A seguir, o poema “Quando eu não te tinha”, que faz parte dessa obra:

Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo…
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima.
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor…
Tu não me tiraste a Natureza…
Tu não me mudaste a Natureza…
Trouxeste-me a Natureza para ao pé de mim.
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.
Só me arrependo de outrora te não ter amado.