Em todo o caso, bonecos já existem a séculos e o que eles são, senão uma imitação da vida, seja como um brinquedo ou aparato de substituição? O que fica evidente é que tais criações surgem em um momento que o homem busca um objeto ou algo que possa suprir suas necessidades emocionais, operacionais, humanas, enfim. Se você assistiu a A.I – Inteligência Artificial, de Steven Spielberg, certamente entenderá do que estou falando. É a história de um Pinóquio moderno que, nem por isso, é desinteressante. Muito pelo contrário, ela cativa e nos faz refletir.
Extremamente provocador (e até chocante em alguns momentos), o drama de ficção científica “O Problema de Nascer” (The Trouble with Being Born, no original) trata exatamente disso, explorando o topos do humano artificial, aqui apresentado de forma inusitada com foco no nível emocional. Conforme a narrativa avança, a trama nos conduz a indagarmos se as pessoas estarão preparadas no futuro para possuir um robô humanoide que supra suas necessidades. O trailer pode ser visto aqui.
O enredo nos apresenta Elli (Lena Watson) uma criança de 10 anos que na verdade é um andróide, uma máquina, na forma de uma menina, assim como um robô sexual. Elli vive com Georg (Dominik Warta) , a quem ela chama de “Papa”. Ela o ama. No verão, eles nadam na piscina durante o dia e à noite ele a leva para a cama com ele. Georg criou Elli a partir de uma memória pessoal, para se fazer feliz. É, portanto o receptáculo de suas memórias. Memórias que não significa nada para ela e tudo para ele, já que, para Elli, é apenas a programação que ela segue. No entanto, durante uma certa noite, Elli sai rumo à floresta seguindo um eco que se desvanece.
O filme, lançado em 2020, tem uma pegada distópica e retrata “a história de uma máquina e os fantasmas que todos carregamos dentro de nós”. Um convite formalmente denso e provocativo para o reino da realidade virtual e psicológica.
Em sua estreia no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, o filme gerou polêmica por retratar uma relação entre um homem e um menor, embora um androide, que também se assemelha a seu filho.
A diretora Sandra Wollner, que escreve o roteiro junto com Roderick Warich, se referiu ao filme como a “antítese de Pinóquio”. Wollner inicialmente pretendia escalar uma atriz de 20 anos para o papel da androide Elli, mas depois de editar alguns dos elementos mais explícitos do roteiro do filme, escolheu a atriz de 10 anos Lena Watson (um nome artístico, inspirado por Emma Watson) para o papel. As cenas em que o androide é mostrado nu foram realizadas usando imagens geradas por computador. Watson também usava uma máscara de silicone e uma peruca, que serviram para esconder sua identidade.
O longa é uma produção Áustria / Alemanha. O elenco traz Lena Watson, Dominik Warta, Ingrid Burkhard, Jana McKinnon e Simon Hatzl.