Não é exagero dizer que Edgar Allan Poe é um verdadeiro gênio da literatura, sendo ele o criador de tramas inquietante e enredos que prendem a atenção do leitor. Poe maneja como ninguém a arte de aguçar a curiosidade através do inesperado, pelo suspense, pelo terror, pelo horror. Sempre através de uma atmosfera de suspense.
Poe com sua perspicácia, consegue lá no século XIX, inventar o gênero policial e o thriller psicológico levando ao curioso leitor, através da junção de suas narrativas, elementos perturbadores como o sobrenatural, o fantástico e o insólito. Seus contos, repletos de mistérios, trazem detalhes minuciosos de sentimentos, lugares e personagens, envolvendo tão profundamente leitor, que este já não consegue escapar do extraordinário mundo do autor.
“O Retrato Oval” é um conto de terror do escritor que narra as circunstâncias perturbadoras que cercam um retrato em um castelo. É um de seus contos mais curtos, ocupando apenas duas páginas em sua publicação inicial em 1842.
A seguir reproduzo os primeiros parágrafos da obra e que tem, por objetivo, apresentar ao leitor o ambiente em que a trama irá transcorrer:
O castelo cuja porta de entrada meu criado ousara forçar, para que eu não passasse a noite ao relento, no estado lastimável em que me encontrava, ferido, era um desses edifícios de uma imponência cheia de tristeza, que durante longos séculos se erigiam entre os montes Apeninos, tanto na realidade quanto na fantasia de mistress Radcliffe.
Segundo toda a aparência, ele fora abandonado por seus habitantes, havia muito tempo.
Instalamo-nos em uma sala pequena e das menos suntuosamente guarnecidas. Ficava em uma torre bastante afastada do centro do edifício e mesmo assim malgrado seu estado de abandono e aspecto vetusto, sua decoração era rica. As paredes estavam cobertas com tapetarias e panóplias várias, além de extraordinário número de quadros modernos, na verdade cheios de vida, em molduras luxuosas com arabescos dourados. Esses quadros — suspensos não somente nos pontos das paredes mais espaçosos e mais cheios de luz, mas também nos numerosos recantos formados pela singular arquitetura do castelo — esses quadros — repito, por efeito, sem dúvida, do estado de quase delírio em que eu me encontrava, excitaram em mim uma espécie de fascinação. Como já fosse noite, dei ordem a Pedro para fechar as pesadas janelas do quarto, acender todos os braços de um enorme candelabro, colocado junto de minha cabeceira e afastar largamente as cortinas de veludo negro com franjas, que envolviam o leito. Essas disposições tinham por fim permitir-me, caso não conseguisse dormir, ao menos examinar os quadros detalhadamente com o auxílio de um opúsculo, encontrado sobre o travesseiro e cujo assunto era a crítica e explicação desses quadros.
Fiquei, por aluam tempo lendo, alheio a tudo o mais. Piedosamente erguia os olhos do livro e contemplava o quadro, cuja explicação já lera.
Falar mais certamente estragará a história que, já adianto, é bastante curta e pode ser ler lida em pouquíssimos minutos.
Edgar Allan Poe nasceu em 1809 e faleceu em 1859. Foi poeta, contista, editor e crítico literário americano, tendo sido apresentado ao mundo europeu do século XIX por meio das traduções de Baudelaire. No século XX continuou largamente a ser traduzido em países como França, Espanha e Itália, assim como no Brasil.