A leitura dos clássicos tem um sabor distinto e único se comparados às demais obras literárias. Digo isso após ler Odisseia (Οδύσσεια | Odýsseia, no original), um dos dois principais poemas épicos da Grécia Antiga, que são atribuídos a Homero. Trata-se de uma sequência da Ilíada, outra obra creditada ao autor (que eu ainda não li, mas que já está na lista). É um poema fundamental no cânone ocidental. Historicamente, é a segunda — a primeira sendo a própria Ilíada — obra da literatura ocidental.
Assim, a Odisseia, bem como a Ilíada, é um poema elaborado ao longo de séculos por meio da tradição oral e tendo tido sua forma fixada por escrito, por volta do fim do século VIII a.C. A linguagem de Homero combina dialetos diferentes, inclusive com reminiscências antigas do idioma grego, dando lugar neste caso, a uma língua aparentemente artificial, mas que pode ser compreendida.
O enredo retrata o regresso de Odisseu (ou Ulisses como era chamado pelos romanos), um herói da Guerra de Troia e protagonista que dá nome à obra. Como se diz na proposição, é a história do “herói de mil estratagemas que tanto vagueou, depois de ter destruído a cidadela sagrada de Troia, que viu cidades e conheceu costumes de muitos homens e que no mar padeceu mil tormentos, quanto lutava pela vida e pelo regresso dos seus companheiros”. Ulisses levou dez anos para retornar à sua terra natal, Ítaca, depois da Guerra de Troia, que também havia durado dez anos.
Se você não se recorda desta história, recomendo claro além da leitura dos clássicos, um filme que pode avivar sua memória: Troya (2004), dirigido por Wolfgang Petersen e roteiro de David Benioff. O longa é baseado no poema épico Ilíada e conta a história da batalha entre os reinos Troia e Esparta. Protagonizado por Brad Pitt no papel de Aquiles, o longa conta com os personagens históricos como Heitor, Páris se apaixona pela esposa do rei, Helena, bem como Menelau, o rei Agamenon, entre outros. Ulisses é interpretado por Sean Bean. Fica a sugestão.
É preciso dizer, portanto, que Odisseia é um retrato da cultura da época, que mostra o modo de vida, a mitologia grega e os sentimentos das pessoas: amor, ódio, vingança, amizade e perdão. Trata-se de uma obra clássica e que, deste modo, não morre nunca, característica marcante de tantos outros clássicos.
A Odisseia é escrita como um poema épico, como uma composição poética que narra a história de um povo. Deste modo, valoriza os seus feitos, características, personagens e adjetivos. Textos deste gênero literário eram criados com o intuito de serem recitados e transmitidos por meio da oralidade, conquistando assim a atenção e despertando as emoções de quem os ouvia.
Como eram escritos para serem interpretados em público, tais poemas focavam bastante no ritmo. Odisseia, por exemplo, é dividida em 24 cantos, e composta por 12 mil versos hexâmetros, de 13 a 17 sílabas, que variam entre as longas e as breves da língua grega.
Alguns trechos e frases – muitas delas bastante controversas – que merecem menção:
Nada vejo de mais doce do que a vista da nossa terra.
E se algum deus me ferir no mar cor de vinho aguentarei: pois tenho no peito um coração que aguenta a dor.
Não há homem mortal que consiga tal proeza pela sua inteligência, a não ser que um deus viesse ao seu auxílio…
Quem delas se acercar, insciente, e a voz ouvir das Sereias / ao lado desse homem nunca a mulher e os filhos estarão / para se regozijarem com o seu regresso; / mas as Sereias o enfeitiçam com seu límpido canto / sentadas num prado, e à sua volta estão amontoadas / ossadas de homens decompostos…
Os pretendentes insistem nas bodas mas eu ato um fio de mentiras.
Um estrangeiro e um suplicante é como um irmão para o homem que atinja o mínimo de bom senso.
Não saber torna impossível evitar que a mesma coisa aconteça novamente. Por outro lado, é libertador. O mundo pode ser perigoso e coisas ruins acontecem às vezes, mas não há nada que você possa fazer, exceto viver sua vida. E seria uma tolice se, enquanto você a vivesse, você não a aproveitasse.
Na verdade, poucos filhos são semelhantes ao pai; / a maioria é inferior, poucos são melhores que ele.
São assim os servos; se os patrões não mandam, não querem trabalhar.
Odisseia é tida como uma das primeiras epopeias, que nos transporta à Grécia de 3.000 anos atrás, às grandiosas aventuras. Trata-se de uma narrativa em que sentimentos atemporais como arrogância, coragem, lealdade, desejo de vingança, perdão e amor nos inspiram profundos questionamentos sobre a condição humana e como alcançar a paz em meio às atribulações da vida.
Quanto a Homero, ele foi um poeta da Grécia Antiga que nasceu e viveu no século VIII a.C. Autor de duas das principais obras da antiguidade: os poemas épicos Ilíada e Odisseia. Vale ressaltar, porém que muitos historiadores e pesquisadores da antiguidade não chegaram a uma conclusão sobre se Homero existiu de verdade ou se é um personagem lendário, pois não há provas concretas de sua existência. Suas obras podem ter sido escritas por outros escritores antigos ou são apenas compilações de tradições orais do período.