O papel de um filósofo em sua essência visa aprofundar nos assuntos pertinentes à humanidade, à sociedade e a forma em que vivemos e enxergamos o mundo e nesta importante tarefa Mario Sergio Cortella se sai brilhantemente bem. Lançado originalmente em 2015 ele lançou “Pensar Bem Nos Faz Bem! Vol. 1”, parte integrante de uma série composta por quatro livros. Este primeiro aborda filosofia, religião, ciência e educação, temas bastante discutidos e relevantes na sociedade atual, e pode não parecer, mas eles têm ligação entre si.
Os textos do livro foram compilados e adaptados a partir dos comentários do autor na coluna Academia CBN, apresentados em rede nacional, de segunda à sexta-feira, às 6h32, de maio de 2012 a abril de 2013. As reflexões não seguem necessariamente a ordem em que foram ao ar pela Rádio CBN e, embora organizadas pelos temas Filosofia, Religião, Ciência e Educação, não foram agrupadas em bloco em torno de cada um destes, de modo a preservar essa característica que a coluna tem no cotidiano.
Alguns trechos interessantes da obra:
Nós não nascemos prontos, temos que ser educados. Nós não nascemos como somos e temos de nos formar, e a educação também faz isso. Onde faz? Em todas as instituições da vida, uma delas é a escola. A educação é um tempo muito mais amplo dentro da nossa existência. Há pessoas que dizem: “Eu não estou com idade mais para educação”. Talvez tenham ultrapassado uma certa fase para a escola, embora sempre seja momento para retornar. Educação é tudo aquilo que nos molda, nos orienta, nos organiza em nossa trajetória, o que inclui também a escola.
A liberdade carrega sobre nós uma responsabilidade muito grande; porque, podendo escolher, a consequência das nossas deliberações será algo ligado à nossa própria capacidade. Nós somos, de fato, aquilo que escolhemos e as consequências que assumimos.
Quem dá aula já ouviu com frequência expressões como “Professor, eu entendi, mas não sei explicar”, “eu entendi, mas eu não sei contar”. E aí nós somos obrigados a dizer algo que vale no mundo do conhecimento: só é capaz de dizer que de fato aprendeu algo aquele que também consegue explicar. Alguém que algo já entendeu e não consegue passar adiante, ainda não entendeu em profundidade. Porque do entendimento faz parte a capacidade de explicação.
As escolas e as famílias sempre se preocupam com a ideia de adolescência. É necessário lembrar que o adolescente é alguém que está grávido de si mesmo. Parece uma coisa estranha, mas o que é isso? O adolescente é alguém que vai dar à luz a ele mesmo num outro momento. Assim como gravidez não é doença, adolescência também não é doença, mas gravidez e adolescência produzem alterações hormonais, dificuldade de estabilidade de humor, uma série de impasses no corpo e na mente, uma impaciência muito forte.
Para algumas pessoas, o ócio ou o feriadinho é muito mais um castigo do que uma alegria. Para outros, não. Para quem está em escola, como eu, em função da atividade exercida há muitas décadas, se há um dia em que há uma grande alegria é no horário da saída, momento de as crianças irem para casa, seja na véspera de um fim de semana, seja na véspera de um feriado. Eu fico imaginando, como educador também, que, se elas chegassem à escola todos os dias com a mesma alegria com a qual da escola saem, no dia em que há ou fim de semana ou feriado, tudo seria mais agradável, muito mais gostoso dentro do trabalho. Mas, claro, para alguns, não ter um momento de trabalho é uma tortura, para outros é uma coisa extremamente agradável. Alegria ou castigo.
Muitas vezes nós pensamos em educação escolar como sendo fruto apenas do que nos traz aquilo que é positivo, que auxilia, que nos faz crescer, mas este chiste do Mark Twain nos alerta para uma questão: a educação escolar não é sem- pre positiva. Ela pode criar obstáculos para que alguém consiga crescer naquilo que necessita, impedindo a autonomia de pensamento, dificultando a capacidade criativa, fazendo com que alguém seja somente domesticado, isto é, apenas treinado para algumas práticas.
Tanto perguntar quanto responder têm seu lugar no campo do conhecimento, embora algumas áreas se dediquem a fazer mais perguntas do que a encontrar as respostas – é o caso da Filosofia, não só ela, mas especialmente ela. A ciência, exceto a que trabalha apenas com a expressão conceitual e teórica, procura mais as respostas. Isso nos ajuda na vida prática, mas algumas áreas vão em busca de perguntas, como a Filosofia quando questiona “De onde viemos?, “Para que isso?”, “Qual a origem do mal?”, “Qual a finalidade do que fazemos?”, “Será que temos esperança?” Essas são grandes perguntas e a ciência e outros saberes, sem dúvida, nos ajudam nas respostas.
Mario Sergio Cortella nasceu em Londrina/PR em 5 de março de 1954. É filósofo, escritor, educador, palestrante, doutor em educação e professor universitário brasileiro. É autor de vários livros, relacionados com filosofia, em que analisa a vida profissional na contemporaneidade. Cortella é considerado por muitos como um dos maiores pensadores brasileiros da atualidade. Reconhecido por sua habilidade de traduzir complexas ideias filosóficas em exemplos simples, Cortella é constantemente chamado a mídia para dialogar sobre diversos assuntos, principalmente sobre filosofia e educação. Professor convidado da Fundação Dom Cabral (desde 1997) e do GVpec da FGV-SP (entre 1997 e 2009), foi Secretário Municipal de Educação de São Paulo (1991-1992). É comentarista e colunista em programas de rádio e televisão, além de ter presença constante nas mídias digitais, e também autor, até 2020, de 45 livros publicados no Brasil e exterior.