Santo Agostinho em 90 minutos

O livro “Santo Agostinho em 90 minutos”, de Paul Strathern, acompanha a incrível trajetória do pensador cristão, que, depois de levar uma vida dissoluta, passar por violenta crise espiritual e se converter à religião cristã, acabou por dar valiosíssima contribuição à filosofia: a fusão do cristianismo e do neoplatonismo.

Como de costume, Paul Strathern consegue em um pequeno livro, entregar ao leitor ávido por conhecimento, um breve resumo da história da época, da vida do filósofo e de sua filosofia. E, como os outros livros da série, trata-se de uma obra para ser lida de um fôlego só.

Por se tratar de um recorte sob o olhar de Paul Strathern, caso o leitor se interesse, é recomendado ir atrás de obras mais aprofundadas, dada a supervicialidade dos títulos da série, uma vez que o objetivo aqui é mostrar uma fração, sob um prisma, destes que foram importantes pensadores e filósofos.

Lançado em 1999, o título faz parte da série “Filósofos em 90 Minutos”.

Strathern relata que

Agostinho nasceu em 354 d.C., na pequena cidade de Tagasta, província romana da Numídia (atualmente Souk-Ahras, no interior do nordeste da Argélia). Seus pais eram aparentemente um casal classe média e pinguço. Mas seu pai beberrão, Patrício, desenvolveu sintomas alcoólicos de desintegração emocional sob a forma de perversão obsessiva e surtos de violência. Em decorrência disso, a mãe de Santo Agostinho, Mônica, voltou-se para a religião, repudiou o líquido pecaminoso e transformou suas frustrações e desapontamentos em ambições para o filho. Sabemos bastante a respeito da juventude de Agostinho, graças às descrições contidas nas Confissões. Desde o início, Mônica parece tê-lo oprimido, embora em nenhum momento ele ouse uma palavra contra ela, cujo cristianismo extravagante e puritano perpassa o livro desde a primeira página. “Quem irá me lembrar os pecados que cometi quando bebê?”, indaga-se Santo Agostinho, penitenciando-se por chorar pelo leite da mãe. “Eu era de fato um grande pecador”, comenta ele, sem ironia, a respeito de seu desgosto em relação às aulas.

O autor informa ainda que

Agostinho teria profunda influência sobre vários pensadores importantes da era medieval. O mais destacado deles foi provavelmente Santo Anselmo, que no século XI fundou a escolástica, a pseudofilosofia que reinaria soberana por toda a Idade Média. A escolástica foi em sua essência uma tentativa de construir um corpo de pensamento filosófico genuíno fundamentado no rígido dogma religioso. O primeiro era matéria de argumentação filosófica, o último, não. A argumentação filosófica era ampla e conduzida com exatidão minuciosa, mas se alguém inadvertidamente se perdesse no questionamento do dogma, corria o risco de terminar queimado na fogueira. Rapidamente o principal objetivo do debate filosófico passou a ser demonstrar que seu oponente tinha cometido o erro capital de contradizer o dogma. A filosofia tornou-se então um poderoso jogo de poder para uns poucos brilhantes e audaciosos.

Sobre a morte de Agostinho, Strathern afirma que

Durante os últimos anos de vida de Agostinho, o declínio do Império Romano prosseguiu, a passos largos. Em 428 d.C., os vândalos invadiram as províncias do norte da África, e em maio de 430 tinham alcançado os portões de Hipona. Quatro meses após o início do cerco, que duraria um ano, Agostinho morreu, em 28 de agosto de 430. Seu dia é hoje celebrado nessa data. Agostinho foi amplamente reconhecido como santo logo após sua morte.

Algumas citações-chave que estão na obra e que merecem menção:

“Dai-me a castidade – mas não ainda.”

“Para muitos, a abstinência total é mais fácil do que a moderação perfeita.”

“Ame o pecador, mas odeie o pecado.”

“Deus jamais teria criado qualquer homem, muito menos um anjo, sabendo antecipadamente do mal que o rondaria no futuro, sem ao mesmo tempo ter em mente o bem geral do mundo. Ele compreendeu como faria uso dessas criaturas para melhorar o curso da história do mundo, de modo bastante semelhante ao da antítese, que eleva a beleza do poema.”

“Ame e faça o que quiser.”

O autor Paul Strathern estudou filosofia no Trinity College de Dublin, lecionou filosofia e matemática na Universidade de Kingston e é autor das séries “Filósofos em 90 minutos”, traduzida em diversos países, e a mais recente “Cientistas em 90 minutos”. Escreveu cinco romances (entre eles A Season in Abyssinia, ganhador do Prêmio Somerset Maugham), além de biografias e livros de história e viagens. Jornalista free-lance, colaborou para o Observer, o Daily Telegraph e o Irish Times.