Sentimental

Sentimental, lançado em 2012 pela Companhia das Letras, é o sexto livro de poemas de Eucanaã Ferraz, que, além de autor e poeta, é professor de literatura brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eucanaã Ferraz nasceu no Rio de Janeiro em 1961 e apresenta nesta nova seleção, versos que por vezes, mesmo irônico, é coloquial e com uma precisa elegância. Bastante original com o uso de elementos atuais, faz referências à tecnologia como e-mail, blogs e celulares, como no poema “Vem”. A cultura portuguesa com Lisboa (em “Turístico de Lisboa” e “Uma gaivota viesse”)e a chinesa (citada nos poemas “Papel tesoura e cola” ou “Quem roubou o rubi do chapéu do mandarim?”) são igualmente tratados, sem se esquecer, é claro, de São Paulo (em “Nuvens cobrem a cidade de São Paulo” e “Tudo vai terminar bem”).

Em “O coração, poema que abre a obra Sentimental, funciona como alerta: “Quase só músculo a carne dura./ É preciso morder com força”, deixando claro o rumo que o livro tomará. É uma obra clara e ao mesmo tempo profunda, sentimental, como o título se propõe a explicitar.

Eucanaã Ferraz é tido por muitos como o poeta com uma das mais brilhantes e consistentes trajetórias da literatura brasileira contemporânea.

A seguir, reproduzo o poema “Romântica”

Romântica

Quantos de nós quereriam viver não a vida
mas o filme, quando a vida não é vida
e não se morre na morte e o que finda
não apodrece porque logo é outro set;

vida em que se passa a salvo de um dia
a outro sem que se viva a semana entre
eles; viver sob as ordens de um destino
por escrito que sabemos previamente

e o vivemos sem vivê-lo. A força dos fortes
que voam; bandos que matam sem matar;
fracos que não desistem; bravos que no fim
se vingam. Tantos de nós desejaríamos

ter vivido e ter amado amores desgraçados,
cuja beleza, tão bela, era mais bela que
a dor e a dor era mais a beleza que o doer.
Queríamos que fosse não a vida, mas

a cena e a canção crescendo no momento
certo da alegria, no instante do beijo,
no clímax. Close: quando errássemos,
bem na hora, a voz de um Deus dizendo

corta!