Sócrates em 90 Minutos

Assim como outros livros da série “Filósofos em 90”, “Sócrates em 90 Minutos” é mais uma boa oportunidade de se conhecer um pouco mais sobre a vida de personalidades icônicas. Desta vez, estamos falando do mundialmente conhecido Sócrates, importante filósofo grego.

Sócrates nasceu em 469 a.C., num vilarejo localizado nas planícies do monte Licabeto, a uns vinte minutos de Atenas. Seu pai era escultor e a mãe parteira. Em 399 a.C. Sócrates é condenado à morte em Atenas.

A obra mostra que o criador da dialética passou tanto tempo falando de filosofia nas ruas de Atenas que jamais chegou a escrever coisa alguma: “Não sabendo nada, o que poderia eu escrever?”, ruminava o filósofo. Assim como os outros títulos desta mesma série, o livro conta com uma linguagem acessível e textos irreverentes, abordando não apenas a obra mas também um pouco da biografia dos principais filósofos.

O autor Paul Strathern estudou filosofia no Trinity College de Dublin, lecionou filosofia e matemática na Universidade de Kingston e é autor das séries “Filósofos em 90 minutos”, traduzida em diversos países, e a mais recente “Cientistas em 90 minutos”. Escreveu cinco romances (entre eles A Season in Abyssinia, ganhador do Prêmio Somerset Maugham), além de biografias e livros de história e viagens. Jornalista free-lance, colaborou para o Observer, o Daily Telegraph e o Irish Times.

Vale destacar que, além de “Filósofos em 90 minutos”, a Zahar também publica a série “Cientistas em 90 minutos” ambas de autoria de Paul Strathern.

Alguns trechos mencionados por Paul Strathern e que podem ser encontrados no livro:

Sócrates desenvolveu um método de argumentação agressivamente negativo, chamado dialética (o precursor da lógica). Ele o empregava na conversação para interromper a tagarelice de seus adversários e chegar à verdade. Platão capturou o espírito dessas conversações em seus clássicos diálogos. O estilo de vida e a abordagem mais ortodoxa de Platão trariam um elemento fundamental para a respeitabilidade da filosofia. Entretanto ele persistiu na tradição filosófica da interpretação equivocada. Platão acreditava que o mundo real era feito de idéias e que o mundo que vemos e experimentamos consiste apenas em sombras. Apesar desta visão irreal, muitos pensadores acreditam que tudo o que a filosofia reuniu desde então não passa de um mero adendo aos escritos de Platão. Apesar do exagero, foi certamente Platão o primeiro a formular claramente muitos dos problemas filosóficos básicos que nos atormentam até hoje.

Em vez de questionar o mundo, Sócrates preferia acreditar que faríamos muito melhor questionando primeiramente a nós mesmos, tendo adotado a célebre máxima “Gnothi seauton” – Conhece-te a ti mesmo. (Este ditado é algumas vezes erroneamente atribuído a Sócrates. Na verdade, pode ter sido divulgado pelo primeiro de todos os filósofos, Tales; sabe-se também que estava inscrito no Oráculo de Delfos.)

No Fédon, Sócrates descreve a natureza do mundo das formas (ou números, ou idéias. A palavra grega por ele usada é eidos. Esta é a raiz genérica da palavra idéia, que pode também ser traduzida por forma ou figura – onde a noção de número e forma realmente se fundem). Segundo Sócrates, o mundo das formas não é acessível aos nossos sentidos, somente ao pensamento. Podemos pensar em idéias como “esfericidade” ou “vermelhidão”, porém não as percebemos. Só percebemos uma bola vermelha. Isso é criado em função das idéias de vermelhidão, esfericidade, elasticidade e assim por diante. Mas de que maneira isso acontece? De acordo com Sócrates, objetos específicos recebem suas características por “participarem” das idéias que os produziram. Uma forma de mostrar esse conceito é usando a imagem de uma peça de gesso sendo tirada de um molde. As formas abstratas, ou idéias, são como um molde, determinando no objeto sua forma, tamanho e outras características. O mundo das formas é o único mundo real, e é universal. É o mundo definitivo do qual participam todas as coisas. Esse mundo das formas encerra uma hierarquia que atinge seu grau máximo nos mais puros conceitos universais como o Bem, a Beleza e a Verdade. As qualidades de bondade, beleza e verdade que conseguimos perceber em objetos específicos nos permitem contemplar essas idéias universais em seu reino abstrato.

Sócrates não só se parecia com um filósofo como também se vestia como tal. Fosse inverno ou verão, trajava invariavelmente a mesma túnica surrada, coberta por um manto puído que lhe batia na cintura. Andava sempre descalço. Nas palavras de seu colega, Antífon o Sofista, “um escravo obrigado a viver daquela maneira teria feito de tudo para fugir”. Apesar de tudo isso, Sócrates foi aparentemente um bom soldado em batalha. Intelectuais dogmáticos e feios geralmente não são populares entre os soldados. Sócrates, porém, era tão excêntrico que naturalmente deixava intrigado seus companheiros de pelotão.

Sócrates acreditava que o eu verdadeiro de uma pessoa era a alma (psique). Filósofos anteriores já haviam declarado que a alma era o eterno “sopro da vida” em nós, “dormindo enquanto o corpo está ativo mas despertando quando o corpo dorme” – uma espécie de subconsciente imortal, não muito diferente da atual doutrina junguiana. Sócrates via a alma numa esfera muito mais ampla, como a personalidade consciente: uma entidade que pode ser julgada inteligente ou estúpida, boa ou má – isto é, algo pelo qual somos moralmente responsáveis. Ele acreditava que devíamos tornar nossa alma a melhor possível, a fim de fazê-la como Deus.

Sócrates argumentava que todas as pessoas procuram a felicidade. Se são capazes de obtê-la ou não, depende do estado de suas almas. Somente as almas boas alcançam a felicidade. O motivo pelo qual as pessoas não são boas é serem atraídas para coisas que parecem boas, mas na verdade nada possuem de bom. Se apenas soubéssemos o que é verdadeiramente bom, sempre nos comportaríamos de maneira adequada. Desse modo não existiria conflito, dentro de nós ou na sociedade. Provavelmente só um filósofo seria tão ingênuo a ponto de acreditar nisso. Podemos dizer que todos convivemos com uma obscura noção ainda não examinada do bem. Porém, logo que começamos a examiná-lo, reduzindo o a particularidades práticas, descobrimos que discordamos – tanto individual como socialmente.